MAPFRE
Madrid 2,434 EUR 0,01 (0,58 %)
Madrid 2,434 EUR 0,01 (0,58 %)

SUSTENTABILIDADE| 14.09.2021

As mudanças climáticas se tornaram o grande inimigo da agricultura

Thumbnail user

O aumento de eventos climáticos extremos está causando estragos no setor agrícola, onde a taxa de sinistralidade aumentou consideravelmente.

As mudanças climáticas não afetam apenas a saúde de muitos ecossistemas, como também são uma das principais razões pelas quais o setor agrícola está enfrentando catástrofes ambientais com uma frequência nunca antes experimentada. 

Essa tendência não se traduz apenas em um aumento acelerado das temperaturas, mas também nas consequências desse aumento, que reúne fenômenos meteorológicos extremos como secas, enchentes causadas por águas torrenciais, ondas de frio ou furacões, para citar apenas alguns exemplos. 

Obviamente, todos esses fenômenos representam uma dor de cabeça para os agricultores do mundo todo, que viram a taxa de sinistralidade se multiplicar em um setor cuja produtividade caiu em até 20,8% desde 1961.

 

Agricultura menos produtiva com as mudanças climáticas

O preocupante número de 20,8% não significa que atualmente se produza menos do que há 60 anos, afinal essa produção só cresceu desde então, assim como a população mundial. Na verdade, há seis décadas os habitantes da Terra mal chegavam a 3 bilhões, enquanto que em 2021 já ultrapassam os 7,8 bilhões. Assim, seria impensável que a área cultivada estivesse diminuindo. 

Porém, segundo um estudo realizado por um grupo de cientistas das universidades de Cornell, Maryland e Stanford (todas nos Estados Unidos), as mudanças climáticas têm causado uma perda de produtividade equivalente a sete anos, ou seja, atualmente obtêm-se dados que, sem as mudanças climáticas, poderiam ser de 2013. Da mesma forma, o estudo destaca que as áreas que mais sofreram com essa circunstância foram as mais quentes: África (até 30%) e América Latina e Caribe (com 25,9%).

Danos econômicos significativos das mudanças climáticas na agricultura 

Essa falta de produtividade está intimamente relacionada às perdas e danos econômicos que as diversas catástrofes têm causado nas últimas décadas, especialmente no século XXI. Isso é confirmado por uma análise da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, mais conhecida como FAO. 

De acordo com esse estudo, ameaças de origem natural (grandes incêndios), eventos climáticos extremos e até a pandemia de coronavírus têm causado uma série de danos que afetam principalmente o setor agrícola. Tanto que até 63% das repercussões dessas catástrofes correspondem à agricultura, que afeta fortemente as comunidades locais, em particular, que sofrem grandes perdas econômicas, e nacional e internacionalmente, em geral. 

A pior conclusão dessa análise feita pela ONU é que a incidência anual aumentou consideravelmente, chegando a três vezes o que existia nas décadas de 1970 e 1980 do século passado. E, como costuma acontecer quando se trata de desastres meteorológicos, os países com menos recursos são os mais afetados. De fato, estima-se que suas perdas entre 2008 e 2018 foram de 108 bilhões de dólares em termos de produção agrícola e agropecuária. 

Por fim, esse estudo revela que o fenômeno principal e mais temido é a seca. A escassez de água para irrigação chegou a causar perdas de até 37 bilhões de dólares. Eles também mencionam outros desastres, como inundações e tempestades, pragas e incêndios florestais.

Europa e Espanha, exemplos de perdas no setor agrícola

Apesar de as maiores perdas ocorrerem em áreas mais quentes e em países com menos recursos econômicos, é importante notar que nenhuma parte do globo está alheia a um problema que parece estar crescendo. Vejamos a União Europeia como exemplo. 

De acordo com um estudo da revista Environmental Research Letters, nas últimas cinco décadas as perdas relacionadas a secas e ondas de calor triplicaram na Europa, fazendo com que os rendimentos despencassem para até 6,9%. 

E isso não é tudo, o aquecimento global tem causado uma queda de 7% na produção de cereais, que representa 65% da área plantada da União Europeia. 

Da mesma forma, estima-se que a Espanha, cuja agricultura representa 13% da produção europeia, também deve se preparar para uma situação que tende a se agravar. Não é de surpreender, se levarmos em conta o relatório Impactos e riscos derivados das mudanças climáticas na Espanha 2021 publicado pelo Ministério para a Transição Ecológica, o fato de que dias muito quentes (com temperaturas superiores a 25 °C) aumentem nas próximas três décadas terá um impacto direto na produtividade agrícola, ocasionando o desaparecimento ou redução radical de algumas lavouras irrigadas.

Taxa de sinistralidade no setor agrícola dispara

Essa falta de produtividade não é o único problema causado pelos eventos climáticos extremos derivados das mudanças climáticas, mas, como observado acima, as perdas econômicas são consideráveis para os agricultores. Esse fato se traduz em um aumento da sinistralidade a níveis nunca antes vistos. 

Segundo o jornal El País, no primeiro semestre de 2021, 800 milhões de euros já foram alcançados na Espanha, ultrapassando largamente os 600 milhões dos dois anos anteriores. Isso fez com que o valor dos prêmios de risco chegasse a 638 milhões, situação que levou à solicitação de recursos ao Consórcio de Compensação. O maior problema é que esta é a oitava vez que isso acontece nos últimos dez anos.

Embora os dados correspondam à Espanha, é uma situação que se repete em muitas outras geografias, de modo que as autoridades nacionais e supranacionais têm que trabalhar para evitar ao máximo que esses desastres sejam tão catastróficos para o setor agrícola. 

A FAO chegou a apresentar uma metodologia com a qual é possível avaliar danos e perdas por desastres na agricultura em países da América Latina e do Caribe. O objetivo é gerenciar todos os dados e obter informações centralizadas, obtendo assim uma avaliação em pequena, média e grande escala.