SUSTENTABILIDADE | 08.05.2025
COP30: desafios globais diante da emergência climática
A COP30, que será realizada em novembro no Brasil, enfrenta desafios centrais em um cenário de acelerada crise climática. A MAPFRE, junto a outras seguradoras, participou para dar visibilidade aos riscos e às soluções que o setor pode oferecer para a transição ecológica
Em 1992, a Cúpula da Terra do Rio de Janeiro deu origem à criação da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (CMNUCC), que definiu as bases para as Conferências das Partes (COP). Três décadas depois, o Brasil voltará a reunir os líderes de todo o mundo para a COP30, em um momento crítico para o planeta. A intensificação dos efeitos da mudança climática, expressa em fenômenos como temperaturas extremas, secas prolongadas e aumento de desastres naturais, exige uma ação urgente e ambiciosa.
A escolha do Brasil como sede desta conferência significa uma oportunidade para proteger a Amazônia, o mais importante sumidouro de carbono terrestre do mundo, e abordar temas essenciais diante de uma situação de urgência global sem precedentes. A ciência é clara: o tempo para tomar decisões transformadoras está se esgotando e os riscos de inação se tornam cada vez maiores para o meio ambiente, a nossa saúde e a estabilidade social e econômica global.
Efeitos da mudança climática na Agenda 2030
O ano de 2019 foi o segundo mais quente de todos os tempos e marcou o final da década mais quente de que se tem registro. Além disso, esse mesmo ano, os níveis de dióxido de carbono e de outros gases de efeito estufa (GEE) na atmosfera aumentaram até níveis recorde. Se não agimos, a temperatura média da superfície do mundo poderia aumentar uns 3 graus centígrados neste século.
As pessoas experimentam diretamente os efeitos da mudança climática, que incluem mudanças nos padrões do tempo, o aumento do nível do mar e os fenômenos meteorológicos mais extremos que possamos observar. Estes efeitos da mudança climática têm um impacto negativo na economia e na vida das pessoas, das comunidades e dos países, especialmente nos mais pobres e vulneráveis.
O consenso científico nos coloca em um momento decisivo se queremos evitar mudanças irreversíveis em importantes ecossistemas e no sistema climático do planeta. A edição 2022 tem lugar em um momento especialmente importante, porque apenas umas semanas depois da Hora do Planeta, é realizada a COP15 do Convênio das Nações Unidas sobre Diversidade Biológica, uma ocasião em que se debaterá sobre um novo plano de ação global capaz de deter e reverter a perda de biodiversidade.
A urgência de um compromisso real e global
Em junho de 2024, foi registrado um máximo histórico: durante 12 meses consecutivos, a temperatura média global ultrapassou em 1,5 °C os níveis pré-industriais. As evidências científicas alertam que isso pode ser o início de um período prolongado de aquecimento, o que implicaria o descumprimento dos compromissos assumidos no Acordo de Paris. Nesse sentido, Celeste Saulo, secretária geral da OMM, declarou que “o fato de superar o limiar de 1,5 °C durante um ano específico não significa que não possamos atingir os objetivos de temperatura a longo prazo estabelecidos no Acordo de Paris, pois a consecução deles depende de valores medidos ao longo de décadas e não em um ano concreto”. Ainda assim, a especialista reconheceu que “cada fração de grau de aquecimento conta. Independentemente de a temperatura ficar abaixo ou acima do limiar de 1,5 °C, qualquer intensificação adicional do aquecimento global agrava suas consequências para nossas vidas, nossas economias e nosso planeta”.
2024 foi o ano mais quente já registrado, com um aumento de aproximadamente 1,55 °C em relação aos níveis pré-industriais
Os eventos meteorológicos extremos, cada vez mais intensos devido à mudança climática, já estão provocando impactos negativos, prejuízos e danos tanto nos ecossistemas quanto nos seres humanos. Em 2024, a rede internacional de pesquisa World Weather Attribution (WWA) identificou um total de 219 eventos meteorológicos extremos. Em 26 desses fenômenos estudados pela organização, pelo menos 3.700 mortes foram registradas. Além disso, a WWA estima que os dez eventos climáticos extremos mais mortais dos últimos vinte anos causaram mais de 570.000 mortes.
A World Weather Attribution estima que os eventos extremos relacionados à mudança climática causaram mais de 570.000 mortes nas últimas duas décadas
A crise climática está tendo efeitos devastadores na vida das pessoas. Alguns são mais visíveis, como os que se refletem em eventos meteorológicos extremos, mas também há outros menos perceptíveis, embora tenham grande impacto na saúde e na qualidade de vida. Myrto Tilianaki, assessora sênior de direitos humanos e meio ambiente na Human Rights Watch, explica que “a queima de combustíveis fósseis é a principal causa do colapso climático global, que afeta milhões de pessoas em todo o mundo. As comunidades próximas às áreas de extração e produção durante décadas têm suportado os piores impactos dessa indústria”. Nesse sentido, a especialista cita um estudo realizado pela Human Rights Watch, que demonstra o impacto da poluição gerada pela indústria de combustíveis fósseis e petroquímicos no chamado “Corredor do câncer”, em Luisiana.
O caminho rumo à COP30
A primeira COP, celebrada em Berlim em 1995, deu início às negociações internacionais para definir ações concretas contra a mudança climática. Dois anos depois, na COP3, celebrada em 1997 no Japão, foi adotado o Protocolo de Quioto, com objetivos vinculativos de redução das emissões para 36 países industrializados e a União Europeia. No entanto, seu impacto foi muito limitado ao não incluir os países em desenvolvimento.
O Acordo de Paris, adotado em 2015, representou um avanço crucial ao estabelecer objetivos globais, como limitar o aumento da temperatura global a menos de 2 °C em relação aos níveis pré-industriais, com o esforço adicional de não ultrapassar 1,5 °C. Neste contexto, cada país deve apresentar, a cada cinco anos, um plano conhecido como as Contribuições Determinadas a Nível Nacional (NDC), no qual são detalhadas as ações que realizará para alcançar estes objetivos.
Apesar dos esforços, o Relatório de Síntese das NDC indica que a implementação de todos os planos atuais conseguiria apenas uma redução de 51,5 gigatoneladas de CO2 para 2030, o que representaria uma diminuição de apenas 2,6% em relação aos níveis de 2019. Esta porcentagem está muito longe de cumprir com os objetivos globais de redução de emissões. De fato, o Grupo Intergovernamental de Especialistas sobre a Mudança Climática (IPCC) advertiu que para 2030 é necessária uma redução de 43% das emissões de gases de efeito estufa em relação aos níveis de 2019, uma meta que hoje parece longe de ser cumprida.
Este ano, os países devem apresentar novos planos climáticos para acelerar a transição para economias baixas em carbono. Apesar de que a maioria dos países não apresentou seus planos nos prazos acordados, a ONU confia em que mais de 170 países enviem seus novos planos climáticos antes da COP30. No entanto, sua qualidade é chave e, por isso, a ONU enfatizou que, se não forem suficientemente ambiciosos, o mundo se encaminhará a um aumento de temperatura superior a 3 °C, o que teria consequências catastróficas.
Este compromisso global é essencial, mas as incertezas geopolíticas continuam sendo um obstáculo. Na COP29, celebrada em Baku, os países desenvolvidos concordaram em arrecadar, pelo menos, 300.000 milhões de dólares anuais para 2035 com o objetivo de financiar a ação climática em países em desenvolvimento. Embora este número ultrapasse os 100.000 milhões de dólares anuais acordados em Copenhague em 2009, continua muito longe das necessidades reais estimadas pela comunidade científica e pelos países mais vulneráveis
Transformação econômica frente à mudança climática
Um estudo publicado na revista Nature estima que, independentemente das decisões futuras, a mudança climática já acarretará uma redução de 19% na renda global dos próximos 26 anos. O relatório também destaca que o custo de mitigar as emissões futuras é consideravelmente menor do que os prejuízos econômicos que causará a continuidade do uso de combustíveis fósseis.
Nesse cenário, as seguradoras ao redor do mundo não enfrentam apenas os riscos tradicionais, mas também novos eventos decorrentes da mudança climática. Nas últimas décadas, esses eventos aumentaram 10%, provocando um aumento de 36% nos prejuízos do setor segurador e gerando um custo total de 367.300 milhões de euros. Diante dessa realidade, o setor segurador precisa se tornar um ator fundamental na transição energética e nas transformações imprescindíveis para garantir a sustentabilidade ambiental.
Por isso, a MAPFRE participará ativamente da COP30 e estamos intensificando nossos esforços para conscientizar sobre os riscos que afetam o setor segurador. Para isso, promoveremos encontros com o quadro de funcionários, pessoas especializadas e grupos de interesse, visando refletir e oferecer diretrizes que possam contribuir para frear a deterioração do planeta. Como explica Antonio Huertas, presidente da MAPFRE, “nosso compromisso ambiental é elevar a exigência em sustentabilidade de maneira firme e progressiva, acompanhando a sociedade em uma transição energética justa com forte vocação social, ou seja, ajudar e acompanhar as empresas em sua transformação para que continuem criando riqueza, de maneira cada vez mais sustentável e respeitando o meio ambiente”.
Nesse contexto, na MAPFRE promovemos diferentes ações dentro de nosso Plano Corporativo de Sustentabilidade Global, que inclui compromissos de investimento e assinatura para descarbonizar a economia e impulsionar um modelo de transição energética justa. No campo dos produtos e serviços ESG, destacam-se iniciativas como o Fundo de Biometano, bem como seguros específicos para veículos elétricos, apólices agrícolas com coberturas contra danos nas culturas e seguros de lar e comércio, que incluem cláusulas por fenômenos atmosféricos. Também promovemos o acesso ao seguro com soluções para a população de baixa renda, com projetos como MAPFRE na Favela.
Por outro lado, na área de investimentos, aplicamos critérios rigorosos de exclusão: não investimos em empresas que obtenham 30% ou mais de sua receita com geração de energia a partir do carvão. Nessa mesma linha, também não seguramos a construção de novas infraestruturas associadas a minas de carvão, usinas termelétricas, areia-asfalto nem à exploração de petróleo ou gás no Ártico.
Graças ao esforço dedicado para reduzir o consumo de energia e descarbonizar as operações, conseguimos diminuir nossa pegada de carbono em 25%. Além disso, estamos desenvolvendo diferentes projetos para compensar nossa pegada de carbono, com projetos de reflorestamento na Espanha, em Portugal e no Peru, e o projeto Floresta no Brasil, que resultou no plantio de mais de 6.500 árvores e na compensação de mais de 30.000 toneladas de CO₂. Para promover a economia circular, também implementamos iniciativas como CesviRecambios, que oferece uma segunda vida a milhares de peças provenientes de veículos considerados sinistro total.
Em todo este processo, as alianças estratégicas e a colaboração com diferentes atores políticos, econômicos e sociais são essenciais. Por isso, também colaboramos com organizações como WWF Espanha, Funzel, Bird Life, Nature Trust e Para la Naturaleza, para a proteção da biodiversidade, e construímos parcerias com empresas comprometidas com as energias renováveis, como a Iberdrola.
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