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FINANÇA | 30.04.2021

EUA e Europa, uma recuperação a duas velocidades

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As previsões mais recentes revelam duas taxas de crescimento distintas em ambos os lados do Atlântico. A rápida resposta fiscal, a campanha de vacinação acelerada ou o plano de estímulo do governo de Biden foram alguns dos fatores determinantes que aumentaram as diferenças na recuperação entre os dois poderes.

Os Estados Unidos quebraram completamente os padrões. Em um momento tão complicado como o que vivemos, a principal potência mundial surpreendeu a todos ao registrar um ritmo acelerado em sua recuperação, com projeções altas graças à rápida resposta do país em tomar medidas de contenção inéditas no combate à crise do coronavírus.

Os dados do relatório Panorama econômico e setorial, elaborado pela MAPFRE Economics, confirmam a retomada da economia neste ano, que deverá crescer até 6,6%, depois de cair 3,5% em 2020. A Europa, pelo contrário, tem ficado para trás e suas estimativas são menos otimistas, com uma expectativa de crescimento de 4% durante 2021, embora muito condicionada pelas restrições que podem ser implementadas nos próximos meses. Esses números sugerem que dois caminhos de recuperação claramente diferenciados estão sendo traçados.

Além disso, o FMI (Fundo Monetário Internacional) já avisou que ambas as estimativas podem “divergir perigosamente”, em linha com as recentes declarações da presidente do BCE (Banco Central Europeu), Christine Lagarde, que afirmou que, apesar das suas intenções para “avançar em conjunto” com o FED (Federal Reserve System, Sistema de Reserva Federal dos Estados Unidos), as duas economias não estavam na “mesma página”.

A nova atualização do Serviço de Estudos da MAPFRE sobre política monetária mostra esses ajustes mínimos por parte da UE e a intenção do BCE de manter as taxas de juros e aumentar o ritmo do PEPP (Pandemic Emergency Purchase Programme, Programa de compra de emergência para pandemia). No caso dos Estados Unidos, que empreendeu o maior plano de estímulos já visto desde o pós-guerra, pretende-se reduzir sua política expansionista se os próximos dados de crescimento, desemprego e inflação confirmarem a tendência positiva.

Com tudo isso, os dados apontam para a ameaça de que a lacuna econômica se amplie entre os dois blocos.

Por que dois caminhos diferentes estão sendo traçados?

É fato que a campanha de vacinação está sendo um dos grandes diferenciais no objetivo final de imunizar toda a população e recuperar a atividade pré-pandêmica, além dos problemas no fornecimento de vacinas e da falta de iniciativa para acelerar o plano na UE, os Estados Unidos mostraram que estão dois passos à frente: o governo Joe Biden já vacinou mais de 40% dos americanos com pelo menos uma dose (cerca de 140 milhões de pessoas).

Enquanto isso, na Europa, a taxa de vacinação está mais lenta do que o esperado e a meta de 70% da população imunizada até o verão está muito distante. Diante de um eventual aumento das restrições devido a uma nova onda do coronavírus, a zona do euro poderá sofrer um atraso adicional na recuperação econômica.

Por outro lado, os programas de recuperação seguem o mesmo padrão expansionista por meio da compra da dívida pelos bancos centrais. Até agora, o BCE tem mantido os estímulos (e tudo indica que os manterá durante 2021), e os Estados Unidos, “com um cumprimento mais rápido de suas metas de inflação e pleno emprego”, estão considerando reduzir sua Quantitative Easing no futuro se os dados se manterem otimistas.

O estudo da MAPFRE Economics também indica que a disposição dos bancos centrais em prestar ajuda direta tem sido um alívio para os Estados. Nesse sentido, os dois blocos têm conseguido realizar políticas fiscais poderosas para reativar a economia. Na América do Norte, Biden aprovou um pacote inédito de ajuda a famílias e empresas de 1,9 trilhão de dólares que terá um “impacto direto no consumo e na poupança”. Por outro lado, Bruxelas ainda está imersa na aprovação do plano NGEU (Next Generation EU, Próxima geração da UE) de 1,8 trilhão de euros, que chegará tarde para os países esse ano.

Finalmente, desde o final de 2020, há uma mudança na dinâmica dos preços. Nos EUA, a inflação parece não sair do patamar de 2% desde o início da pandemia, embora ainda seja inferior às projeções (cenário previsto de 2,7% para esse ano). Por outro lado, a Europa, com objetivos pouco claros sobre a inflação, que pode se manter esse ano em 2%, vive perspectivas assimétricas devido a eventos específicos como a reforma tributária alemã, as taxas de CO2 ou o efeito Filomena na Espanha, entre outros.

O que acontecerá no futuro?

Na zona do Euro, a intensificação das compras de ativos continua sendo um sinal do compromisso do BCE em sustentar a recuperação a curto prazo. O estudo salienta que a intenção de Lagarde de aumentar o programa de estímulo dá a sensação de que não haverá aperto monetário precoce. Além disso, liquidez, baixas taxas e apoio do banco central não parecem comprometer a sustentabilidade do sistema financeiro neste momento.

Porém, em um cenário de maior incerteza, o controle da estabilidade de preços, o risco de aumento da inadimplência das empresas (com o consequente aumento da inadimplência nos bancos) e a má gestão dos fundos europeus podem criar sérios problemas para enfrentar a crise a longo prazo.

Do lado norte-americano, as estimativas mais recentes sugerem que a recuperação ocorrerá antes do esperado, após uma política expansionista que parece estar em declínio gradativo e que pode levar a medidas mais restritivas. Os especialistas acrescentam que o FED tem a complicada tarefa de “transmitir clareza em seus objetivos de emprego e na flexibilidade da inflação”.

A médio e longo prazo, a tentativa do banco central de reativar a curva de Phillips, em que a relação entre desemprego e inflação se mantém estável, pode colocar em causa o fato de que tais medidas gerem um superaquecimento da economia, arriscando a estabilidade financeira do país.