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SUSTENTABILIDADE | 05.12.2023

Entrevista com Juan Fernández Palacios: A colaboração entre gerações é chave para um mercado de trabalho mais equitativo e eficiente

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Atualmente, na Espanha, 20% da população ativa, 4.100.000 pessoas, são seniores. Eles contribuem com 25% do PIB, geram 60% do gasto espanhol e representam 33% da população total do país. E este número não parará de crescer. Na Espanha, de acordo com o Instituto Nacional de Estatística, há 133 pessoas com mais de 64 anos para cada 100 menores de 16. Com uma pirâmide demográfica invertida e uma expectativa de vida cada vez mais longa, devemos nos perguntar como a economia e o mercado de trabalho se adaptarão a essa nova realidade.

Conversamos com Juan Fernández Palacios, diretor do Centro de Pesquisa Ageingnomics da Fundación MAPFRE, sobre o talento sênior. No contexto da recente publicação do III Mapa do Talento Sênior, exploramos a situação profissional experimentada pelas pessoas com mais de 55 anos na Espanha e como nelas está grande parte da solução para a atual situação demográfica.

O que é talento além de uma faixa de idade? Do que estamos falando quando falamos de talento sênior?

Quando falamos de talento sênior, estamos nos referindo às capacidades, aos conhecimentos e às aptidões que aqueles que chamamos de geração sênior têm ou que acumulam. Esta geração, para nós, compreenderia o segmento da população que começa aos 55 anos e finaliza aproximadamente aos 75.

Foi nesse segmento que colocamos o foco, apesar de que é preciso tratá-lo com certa flexibilidade: às vezes lidamos com informações e dados que não se encaixam exatamente nesse segmento. Por exemplo, no Mapa de Talento Sênior, quando falamos dos seniores, nos referimos as pessoas entre 55 e 70 anos. Não chegamos até 75, porque a incidência dos seniores maiores de 70 no mercado de trabalho espanhol é muito pequena. É quase insignificante.

E por que é importante fazer um mapa do talento sênior?

Esta é uma boa pergunta. Nós, do Centro de Pesquisa Ageingnomics da Fundación MAPFRE, temos o objetivo de analisar, acompanhar e medir a economia sênior. A economia sênior é a parte da economia que gira em torno dos seniores: o conjunto de atividades e recursos produzidos por e para a geração sênior. Fazemos trabalhos específicos sobre o que os seniores consomem, suas demandas, quais são suas prioridades de gastos, etc.

Também analisamos como as empresas mais relevantes se relacionam com os seniores, se possuem canais específicos de relacionamento com eles, se há produtos específicos, condições especiais de vinculação, etc. Também examinamos o papel dos poderes públicos em relação ao fenômeno do envelhecimento populacional. E, por fim, analisamos como os seniores contribuem através das empresas, seja como profissionais ou autônomos, para a economia, isto é, como estão integrados ao mercado de trabalho.

Porque acreditamos que o talento sênior, especialmente na Espanha, não está bem aproveitado.

Especificamente na Espanha, qual é a situação atual do talento sênior?

A situação do talento sênior na Espanha, de acordo com nossas análises, não é a ideal. Existe uma cultura de trabalho que promove a saída precoce do mercado de trabalho, o que leva a desaproveitar a experiência, o ofício e o conhecimento que pessoas com mais de 55 anos podem contribuir. Passamos de ter uma pessoa com 65 anos que está desempenhando seu trabalho e contribuindo para a empresa e, portanto, para a economia, a tê-la no dia seguinte em sua casa sem fazer nada.

Na Ageingnomics acreditamos que, como país, não podemos permitir isso. A tendência atual à pré-aposentadoria e a falta de flexibilidade nas condições de trabalho não são boas para os seniores e geram um desequilíbrio em alguns sistemas básicos de nosso estado de bem-estar, como no tema das aposentadorias. O marco propício deve ser estabelecido para que aqueles que possam e queiram continuar desenvolvendo uma atividade produtiva possam fazê-lo voluntariamente.

E como isso afeta a relação entre jovens e seniores no mercado de trabalho?

Afeta de várias maneiras. Por um lado, cria uma brecha geracional em que os jovens podem perceber os seniores como concorrentes e não como um recurso. Esta percepção pode gerar tensões na área profissional. Por outro lado, a falta de integração dos seniores no mercado de trabalho impede que os jovens se beneficiem de sua experiência e conhecimento. Acreditamos que promover a colaboração entre gerações é chave para um mercado de trabalho mais equitativo e eficiente.

E para as empresas, como elas podem aproveitar o talento sênior de maneira mais efetiva?

As empresas podem aproveitar o talento sênior de diferentes maneiras. Primeiro, é importante mudar a mentalidade e superar os estereótipos associados à idade. Não se trata apenas de contratar seniores, mas de criar um ambiente de trabalho inclusivo, que reconheça e valorize a diversidade geracional. Além disso, as empresas podem implementar programas de mentoria reversa, em que as pessoas podem aprender com os jovens e vice-versa.

Também é chave oferecer condições de trabalho flexíveis adaptadas às necessidades dos seniores, permitindo que continuem contribuindo com sua experiência e conhecimentos. A formação contínua também é essencial para manter atualizadas as habilidades dos seniores. Em resumo, trata-se de integrar os seniores à cultura da empresa e reconhecer o valor que eles proporcionam.

E, por fim, qual seria sua principal mensagem sobre o talento sênior?

Nossa principal mensagem é que o talento sênior é um recurso valioso e subutilizado na Espanha. Precisamos reter, aproveitar e otimizar nosso talento sênior. É essencial mudar a percepção e aproveitar a experiência e o conhecimento das pessoas com mais de 55 anos. Isto não apenas beneficiará os seniores, mas também contribuirá para um mercado de trabalho mais equitativo e para a sustentabilidade de nosso sistema econômico e de bem-estar.

 

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