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ECONOMIA | 07.02.2025

Aumento das tensões geoeconômicas: como afeta o comércio global?

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As tensões comerciais estão no centro das atenções nos últimos dias, após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciar tarifas de 25% sobre as importações provenientes do México e do Canadá (10% no caso dos produtos energéticos canadenses), que terão um período de carência de um mês, e de 10% sobre as importações da China. Além disso, a assinatura dessas ordens executivas ocorre após o confronto com a Colômbia na semana anterior, quando o presidente Gustavo Petro se recusou a aceitar os voos de deportação provenientes dos Estados Unidos. Isso levou à imposição de tarifas de 25% sobre a Colômbia, que, por fim, acabou aceitando os voos.

O Fórum Econômico Mundial coloca as tensões geoeconômicas na nona posição entre os riscos para os próximos dois anos, conforme destaca em seu relatório Global Risks Report 2025. Este risco subiu cinco posições desde a última edição. “A nova Administração norte-americana sugeriu que implementará tarifas nas importações de todos os seus sócios comerciais, apontando especialmente China, México e Canadá”, comenta.

Diante da materialização dessas decisões nos últimos dias, aproxima-se a possibilidade de que o pior cenário se concretize nos próximos dois anos: que os Estados não apenas imponham tarifas aos países e blocos que as tenham aplicado, mas também a todos os seus parceiros comerciais. "Essa imposição generalizada de tarifas pode causar uma contração no comércio global", alerta o Fórum Econômico Mundial, destacando especialmente a possível escalada da guerra comercial entre China e Estados Unidos.

Eduardo García Castro, economista sênior da MAPFRE Economics, aponta que essas imposições de tarifas representam um choque de oferta, já que aumentam o custo de produção. "Algo que custava X agora custará X mais a tarifa, que alguém terá que pagar. Há três opções. Por um lado, o consumidor norte-americano assumirá o custo, se for um bem inelástico (aqueles cuja demanda mal muda com a variação de preço, como os guarda-chuvas em um dia de chuva). Se não for um bem inelástico, pode ser absorvido pela empresa em troca de margens mais baixas. Por último, existe uma terceira via: a moeda", destaca.

García Castro insiste que, na situação atual, estamos observando respostas em todos os canais. "Para cada medida coercitiva, há uma oscilação no câmbio, como antecipação a uma desvalorização competitiva para absorver o impacto, e uma correção paralela nos setores afetados, devido à expectativa de queda nas margens", comenta. "A teoria econômica sustenta que ambos os efeitos terminam se comunicando com o canal do consumo, seja por uma menor capacidade de compra da moeda em termos de comércio (tanto para o importador quanto para o exportador) ou pelo impacto do choque empresarial em uma renda disponível reduzida e menor emprego. Em termos agregados, ambos os cenários implicam uma perda comercial."

Em uma economia aberta como a europeia, com um déficit energético estrutural, de matérias-primas estratégicas e certo atraso competitivo, continuam sendo necessários certos níveis de importações do exterior para abastecer a produção. "Este acontecimento pode limitar as possibilidades de absorver o impacto proporcionado pelo próprio mecanismo de desvalorização se o enfraquecimento da moeda se estender suas contrapartes comerciais. Ou seja, a moeda desvalorizada também diante dos demais sócios resultaria em inflação importada", acrescenta o economista sênior da MAPFRE Economics.

A confrontação geoeconômica é uma grande preocupação no Leste Asiático: o risco geoeconômico é o terceiro mais citado para um período de dois anos em Taiwan, China e Hong Kong. Além disso, o relatório de riscos especifica que a Coreia do Sul é um dos Estados mais expostos à imposição de tarifas pelos Estados Unidos, seguida por outros como China, Japão, Canadá e Índia, nessa ordem, assim como Brasil, União Europeia (UE), Indonésia, Irlanda, Itália, Quênia, Malásia, México e Tailândia.

  • Em geral, o atual cenário de fragmentação enfraquecerá a colaboração multilateral exigida em muitos campos, desde a inovação tecnológica até a saúde global, energia ou infraestrutura. “Isso fará com que o mundo esteja menos preparado para a próxima pandemia, e que alguns problemas humanitários e de saúde pública diminuam postos na agenda global”, conclui o relatório do Fórum Econômico Mundial.

O que pode ser feito para minimizar essa confrontação?

O relatório do Fórum Econômico Mundial propõe três ações para tentar minimizar o impacto dessa confrontação em nível global.
1. Incentivar o multilateralismo através de tratados e acordos globais, priorizando especialmente reformas na OMC sobre resolução de conflitos, normas de imposição de tarifas e assuntos relacionados com o comércio digital.
2. Desenvolver relações estratégicas por meio de acordos regionais "profundos".
3. Fortalecer a resiliência da economia doméstica, como o desenvolvimento do setor financeiro ou o investimento em educação, saúde e infraestruturas.

 

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