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INOVAÇÃO| 23.06.2025

Ciberriscos: assegurando o intangível, do seguro tradicional aos mercados de capitais

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Os ciberataques se tornaram uma das ameaças mais graves para a economia mundial, afetando empresas, instituições públicas e particulares. Ataques por ransomware causam dispendiosas interrupções operacionais, além dos enormes danos provocados por roubos massivos de dados ou sabotagens a infraestruturas críticas. Nesse cenário, os ciberriscos deixaram de ser uma questão técnica para se tornarem um problema sistêmico.

Neste contexto, o setor segurador desempenha um papel determinante. No entanto, as características próprias do ciberrisco – alta volatilidade, escassa previsibilidade e interdependências – demonstraram ser insuficientes para as coberturas do seguro tradicional, cuja capacidade encontra sérias limitações diante de sinistros de alta intensidade. Como continuar oferecendo proteção quando a magnitude potencial do risco excede as reservas do próprio setor?

Segundo o recente relatório da The Geneva Association, intitulado Catalysing Cyber Risk Transfer to Capital Markets: Catastrophe Bonds and Beyond, a resposta está na entrada dos mercados de capitais como instrumentos de transferência de ciberriscos. Ao mesmo tempo, companhias como a MAPFRE já estão colocando em prática estratégias concretas para enfrentar esse desafio, combinando alianças tecnológicas e inovação no campo do resseguro.

O dilema do seguro tradicional diante de um ciberataque

Na última década, os produtos de seguro cibernético cresceram significativamente. Segundo dados do próprio relatório da The Geneva Association, o volume de prêmios globais aumentou significativamente, principalmente em mercados como os Estados Unidos e a Europa Ocidental. No entanto, este crescimento quantitativo não garante uma capacidade real de resposta diante de eventos de grande escala.

A razão é simples: os modelos tradicionais de subscrição, tarifação e acumulação de risco estão concebidos para ameaças com padrões históricos relativamente estáveis, como incêndios ou roubos. Mas os riscos cibernéticos não se comportam de forma linear. Seu caráter intangível, a falta de dados históricos consolidados e a possibilidade de que um mesmo evento afete simultaneamente milhares de empresas em diferentes países, tornam difícil delimitar e calcular a exposição.

Segundo podemos ler no próprio relatório “o capital dos seguros tradicionais é limitado e pode não ser suficiente para absorver os eventos catastróficos cibernéticos do futuro”.

Esta análise detalhada propõe ampliar o perímetro de proteção utilizando uma via já explorada em outros âmbitos de risco extremo: os mercados de capitais. Assim como existem bônus catastróficos para furacões ou terremotos, seria possível desenvolver instrumentos financeiros específicos para riscos cibernéticos, como os chamados “cyber cat bonds”.

Mercados de capitais como solução complementar

A ideia de transferir parte do risco cibernético aos investidores institucionais não é nova, mas ainda se encontra em uma fase incipiente. Para o The Geneva Association, esta estratégia permitiria injetar capital adicional no setor de seguros e absorver eventos que atualmente são quase inseguráveis. Não obstante, são necessários avanços substanciais na padronização dos contratos, na transparência dos dados e na modelização do risco.

A chave para atrair os investidores é a criação de produtos compreensíveis e mensuráveis. Se não for possível traduzir o risco cibernético em termos financeiros claros – como perdas pré-definidas, índices paramétricos ou eventos gatilho bem delimitados – será difícil que os fundos de pensão ou as seguradoras institucionais se animem a participar. Neste ponto, a colaboração entre o mundo segurador, o setor tecnológico e o financeiro se torna uma condição indispensável.

O caso MAPFRE: atuar no presente enquanto se constrói o futuro

Enquanto os mercados de capitais se preparam para assumir um papel mais ativo, algumas seguradoras estão tomando medidas para adaptar seus modelos de negócio ao novo contexto. A MAPFRE está desenvolvendo uma dupla estratégia: por um lado, facilitar o acesso das PMEs a soluções de proteção cibernética; por outro, reforçar sua capacidade resseguradora mediante ferramentas de análise avançada.

No âmbito espanhol, a MAPFRE estabeleceu uma aliança com a insurtech Cyberwrite, especializada em avaliação de riscos cibernéticos para pequenas e médias empresas. Com este projeto, a seguradora pode oferecer a seus clientes relatórios de risco em tempo real, gerados por meio de inteligência artificial. Estes relatórios permitem conhecer com precisão as vulnerabilidades digitais de cada empresa, quantificar a exposição ao risco e elaborar apólices adaptadas a cada caso.

Esta abordagem é especialmente útil para as PMEs, que tradicionalmente foram desatendidas em matéria de seguro cibernético devido à complexidade dos produtos e ao desconhecimento técnico. Agora, uma empresa pode contratar um seguro ajustado ao seu perfil de risco digital sem necessidade de contar com um departamento de cibersegurança próprio.

Em escala internacional, a MAPFRE RE também intensificou sua aposta na análise de riscos cibernéticos, assinando um acordo de três anos com a CyberCube, uma das plataformas mais avançadas do setor. Esta ferramenta permite modelar cenários de perda cibernética em grande escala, identificar acumulações de risco por setor ou região e melhorar a tomada de decisões estratégicas em matéria de resseguro.

Inovação como bandeira

O avanço da digitalização e a crescente sofisticação dos ciberataques estão redefinindo o próprio conceito de risco. Aquilo que até recentemente era visto como um problema de TI, hoje se transformou em uma ameaça econômica de primeira ordem, capaz de causar danos comparáveis aos de um desastre natural.

Nesse contexto, o setor de seguros se vê diante de uma encruzilhada: ou se adapta a essa nova realidade, ou será sobrecarregado pela magnitude dos sinistros. O relatório da The Geneva Association apresenta com clareza um caminho promissor: complementar a capacidade do seguro tradicional com os recursos dos mercados de capitais. Mas, enquanto essa infraestrutura não se consolida, os agentes do presente precisam agir com determinação.

A MAPFRE é um bom exemplo de como combinar inovação tecnológica, inteligência de dados e colaboração estratégica para se antecipar aos desafios do futuro. Com iniciativas como a aliança com a Cyberwrite e o acordo com a CyberCube, a seguradora não apenas fortalece sua posição competitiva, como também contribui para a construção de um ecossistema mais resiliente frente ao risco digital. Um ecossistema no qual, cada vez mais, garantir o intangível será a norma, não a exceção.

 

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