ECONOMIA| 19.06.2024
O que é o risco de reinvestimento e como posso proteger minha carteira?
A decisão de cortar as taxas de juros em 25 pontos de base por parte do Banco Central Europeu (BCE) até 4,25% não surpreendeu os investidores, após as declarações da presidente do órgão, Christine Lagarde, e de outros banqueiros centrais nas últimas semanas. Os agressivos aumentos implementados pelo BCE desde 2022 devolveram o atrativo à renda fixa, que há anos não era uma opção rentável para os poupadores. E embora as reduções das taxas costumem ser muito bem-vindas pelo mercado, com esta redução os analistas alertam para o risco de reinvestimento, que é especialmente relevante para os investidores em renda fixa.
“Esse é o risco que um investidor de renda fixa enfrenta como consequência de uma variação das taxas de juros em baixa. Adquire especial relevância quando um investidor que comprou instrumentos de renda fixa a curto prazo, como Letras do Tesouro ou títulos, encontra o vencimento dessas emissões”, explica Ignacio Amo, seletor de fundos da MAPFRE Gestión Patrimonial.
Amo aponta que, se as taxas de juros estiverem mais baixas desde que foi realizada a compra da letra ou do título, o investidor que quer reinvestir seu dinheiro em um instrumento semelhante encontrará uma rentabilidade menos atraente. “Caso se confirme um período de quedas de taxas na Europa, poderá ocorrer um processo de acentuamento da inclinação da curva de taxas, o que beneficiaria TIRs ou rendimentos maiores em vencimentos mais longos. Isso diminuiria um pouco o atrativo nos trechos mais curtos, onde estão os instrumentos mais impactados pelo risco de reinvestimento”, acrescenta.
Isso significa que, quando vença a letra em carteira, o investidor pode enfrentar uma perda de atratividade em termos de rentabilidade em comparação com investimentos de maior duração. Assim, ter a carteira posicionada apenas em uma letra ou título pode afetar negativamente o investidor.
O que podemos fazer para evitar o risco de reinvestimento?
A principal maneira de reduzir o risco de reinvestimento é a diversificação, tanto nos tipos de instrumentos de renda fixa em carteira quanto nos vencimentos desses instrumentos. “O melhor instrumento para alcançar uma boa diversificação é o fundo de investimento, pois profissionais especializados oferecem a possibilidade de investir em uma carteira de títulos e letras que nos ajudará a mitigar esse risco de reinvestimento”, ressalta o seletor de fundos.
Para Amo, é importante entender que saímos de uma etapa de taxas baixas (ou mesmo negativas) e espera-se que, a médio prazo, as taxas permaneçam positivas, sem retornar aos níveis tão baixos do passado. Este novo cenário estabelece um paradigma em que o gestor de renda fixa possui a matéria-prima necessária para poder trabalhar.
“Do nosso ponto de vista, é extremamente difícil decifrar o momento certo para adicionar duração de maneira direcional às carteiras. Por isso, acreditamos oportuno delegar boa parte dos componentes de renda fixa das carteiras em gestores ativos e flexíveis. Esses gestores conseguem, mediante exposições a diferentes ativos, um triângulo TIR/Duração/Risco de crédito superior ao que seria obtido ao selecionar um tipo específico de ativo como pode ser ter exposição exclusiva a uma letra ou um título”, argumenta Amo.
Assim mesmo, embora os trechos mais curtos percam algum atrativo, a MAPFRE Gestión Patrimonial acredita que ainda faz sentido se posicionar nesses trechos, já que a famosa retribuição “continua sendo aproveitável”. “É possível continuar aproveitando essa oportunidade com fundos monetários ou de renda fixa de curto prazo, onde a diversificação, a flexibilidade e as capacidades dos gestores possibilitem capitalizar essa oportunidade”, conclui Amo.